Joinville tem crescimento no número de condomínios e otimismo no setor
Com uma economia forte e cada vez mais diversificada, Joinville, conhecida pela relevância do setor industrial, fechou 2019 no 7º lugar do ranking de geradores de emprego no Brasil, conquistando ainda o melhor desempenho no mesmo levantamento em Santa Catarina
A maior cidade do Estado teve boa parte do crescimento decorrente do desempenho do segmento de serviços, que respondeu por 57% das novas vagas de trabalho criadas no ano passado.
Tal realidade causa impacto direto em áreas como a construção civil que, apesar de ter sofrido reflexos da crise sentida em todo o País, vem não apenas crescendo, mas também se transformando na cidade. Dados da Prefeitura de Joinville compilados pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) da cidade, apontam para a diversificação no tipo de imóveis construídos no município.
Entre 2017 e 2019, a Prefeitura aprovou a construção de quase 630 mil m² em projetos de residências multifamiliares que, na grande maioria das vezes, constituem condomínios, contra 570 mil m² em unidades unifamiliares, ou seja, casas. O aumento na autorização de projetos tem sido crescente pelo menos desde 2007. Segundo reportagem do Jornal A Notícia, entre aquele ano e 2017, foi autorizado um total de quase 3 milhões de metros quadrados somente para prédios.
Elisangela Adriana Marcílio, sócia da Ágata Administração de Condomínios, explica que o aumento no número de condomínios em Joinville é facilmente percebido e ocorre em todas as regiões da cidade.
“Não é mais algo só da região central. Os bairros mais periféricos também estão registrando aumento no número de prédios, ainda que sejam de poucos apartamentos. Houve um período de baixa, mas a partir do segundo semestre de 2019 tem crescido mais.”
Elisangela Adriana Marcílio
O levantamento de Indicadores Imobiliários Nacionais da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), do 4º trimestre de 2019, reforça o otimismo do setor. Na maior parte do Brasil, houve aumento tanto no número de lançamentos, quanto no volume de vendas em relação ao 3º trimestre, e Joinville figura entre as cidades que contribuíram para o saldo positivo. “A cidade apresenta crescimento no número de condomínios, especialmente residenciais, mas comerciais também. A expectativa para este ano é positiva”, acrescenta Raquel Marcílio, também sócia da Ágata
Administração de Condomínios.
A Companhia Águas de Joinville (CAJ), responsável pelo tratamento de água e esgoto, acompanha a evolução no número de condomínios na cidade, que vem sendo de 6% ao ano. “Temos percebido um aumento no número de empresas administradoras de condomínios, reflexo do crescimento de imóveis verticais”, aponta o coordenador de segmentos de mercado da CAJ, Leonardo Kleczewski.
“A maioria das pessoas procura morar em um condomínio por fatores como segurança, facilidade, comodidade e economia, pois está mais fácil comprar um apartamento, por exemplo, do que construir uma casa. Influencia também o fato de que há uma equipe responsável por cuidar de toda a estrutura do condomínio, diferentemente de uma casa, onde o dono precisa se responsabilizar”, avalia o diretor de marketing da Associação dos Síndicos do Estado de Santa Catarina (ASDESC).
A evolução na quantidade de condomínios fez com que a Águas de Joinville passasse a oferecer até mesmo um serviço diferenciado para estes clientes, facilitando o atendimento para síndicos e administradoras. “Entendemos que os síndicos e empresas gestoras de condomínios são uma ponte entre a CAJ e a comunidade. Por isso, oferecemos informações via WhatsApp (pelo 047 99771-8115), além de agendamento de atendimentos, por exemplo”, ilustra Kleczewski.
Já BRCondos, está entre as empresas especializadas em gestão condominial que nasceram por conta do desenvolvimento do mercado em Joinville. Com unidades por diferentes regiões do país, atende hoje mais de mil condomínios e 80 mil moradores em 14 estados e no Distrito Federal. “Vivemos uma grande transformação nesse segmento e a tecnologia é, obviamente, uma aliada”, afirma o diretor comercial da empresa, William Santos.
Com o objetivo de contribuir para a qualificação dos síndicos de Joinville e reconhecer a relevância da cidade deste mercado, a primeira edição do ano do Workshop Síndicos Planning ocorreria no município no dia 25 de março, mas precisou ser adiada por causa das medidas de prevenção relacionadas ao Covid-19, o coronavírus. Ainda assim, Joinville é destaque desta terceira edição da revista “Diretório Condominial”, que agora passa a ser distribuída simultaneamente nas regiões do Norte do Estado, Vale do Itajaí e Grande Florianópolis.
Gestão qualificada
Assim que os novos condomínios são entregues aos moradores, uma série de documentações já se fazem necessárias. “São muitas questões envolvidas e dá muito trabalho fazer a gestão do condomínio. Perder o prazo para recolhimento de um imposto, por exemplo, pode resultar em multa”, esclarece a contadora Elisangela Marcílio.
“O síndico tem responsabilidade pelo condomínio em seis frentes da justiça: civil, criminal, trabalhista, previdenciária, ambiental e tributária. Ele responde por estar no cargo, independentemente do que ocorreu em gestões anteriores.”
Destaca o diretor de marketing da ASDESC, Antonio Vieira
“Os riscos incluem fazer obras ou contratações de forma irregular, o que pode acarretar não apenas em punições financeiras, mas até mesmo a prisão em alguns casos”, complementa.
De acordo com o representante da ASDESC, cidades como São Paulo e Curitiba já apresentam um volume maior de síndicos profissionais e empresas especializadas na gestão de condomínios. Em Santa Catarina, esta realidade é mais comum em Balneário Camboriú, por exemplo. Cidades como Joinville e Jaraguá do Sul ainda contam maioritariamente com a figura tradicional do síndico, um morador que geralmente tem mais disposição e tempo para ajudar nas questões do condomínio.
Ainda assim, William Santos, da BRCondos, destaca que a cidade conta com profissionais muito qualificados. “Joinville é um exemplo de profissionais sérios que praticam a sindicatura de forma efetiva. Graças aos recursos tecnológicos, eles podem ter acesso à informação de qualidade em uma velocidade incrível. Percebemos que a maior parte deles entende e preserva a rentabilidade do capital arrecadado e empregam na melhoria efetiva dos condomínios”, inclui.
“A escolha por síndicos profissionais vem crescendo entre os condomínios, pois as pessoas têm cada vez menos tempo livre e preferem terceirizar várias questões. Além do mais, a tolerância e a educação são pontos-chave”, afirma o advogado Gustavo Camacho, especialista em direito condominial.
“O síndico profissional está 100% envolvido com as questões da área, por isso, costuma estar bem melhor informado. Sabe lidar com tudo o que envolve o segmento condominial, pois vive estas questões em seu cotidiano”, reforça Vieira.
Qualidades de um síndico
Ao escolher quem será responsável pela gestão do condomínio, é importante prestar atenção em alguns pontos. Antonio Vieira, da ASDESC, listou sete características que devem ser observadas:
- É necessário ter capacitação em gestão, conhecer de processos e motivação de pessoal;
- Contar com uma boa equipe, que trabalhe em conjunto e possa atender as demandas de acordo com o que o síndico se comprometeu com cada condomínio;
- Outro ponto é a comunicação. O síndico precisa saber informar de forma adequada sobre todas as circunstâncias que acontecem no condomínio;
- O síndico precisa entender que os condôminos são clientes dele e, por isso, precisa atender de forma a agradar ao máximo a todas as pessoas;
- É importante estabelecer missões, como por exemplo “manter o condomínio com aspecto de novo, organizado, limpo e admirável”;
- Ter conhecimento técnico em diferentes áreas, como construção e legislação condominial, é algo relevante. Não há necessidade de ser especialista, mas precisa ter uma visão geral;
- Por fim, ter alguma experiência na gestão de condomínios é um diferencial, pois é mais complicado do que parece.
Mais de 350 processos em apenas seis meses
A complexidade da gestão de um condomínio pode resultar em questões nada agradáveis. Um síndico experiente e até mesmo profissional pode acabar enfrentando situações que precisam ser levadas para a esfera judicial. Dados da Comarca de Joinville do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) mostram que, apenas no primeiro semestre do ano passado, questões relacionadas com condomínios geraram 364 processos. Entre 2010 e 2018, o número supera as 5,8 mil ações.
Segundo o próprio TJSC, a maior parte dos processos são referentes às cobranças de taxas condominiais. O advogado Gustavo Camacho, especialista em causas neste segmento, explica que, especialmente nos últimos dois anos, a Justiça brasileira vem sofrendo com mudanças neste sentido. “Se antes os chamados “combinados”, como a Convenção de Condomínio ou o regimento interno, costumavam ser soberanos, atualmente o Código Civil de 2002 provou alterações”.
“Costumamos dizer que cinco pontos concentram a maior parte dos problemas de condomínios que chegam até a Justiça, os chamados ‘5 Cs’: 1. Cachorro, que diz respeito às regras relacionadas aos animais; 2. Criança: que costumam gerar conflitos relacionados ao sossego; 3. Cano, que são os problemas de manutenção e estrutura; 4. Carro, que engloba atritos sobre garagens e transportes; e 5. Calote, ou seja, inadimplência”
Gustavo Camacho
De acordo com o advogado, as questões de cobrança costumam ser as mais comuns nos tribunais, mas a intolerância também tem causado outras ações mais inusitadas. “Sabemos de ações envolvendo brigas em assembleias que terminam em agressões físicas. Este tipo de comportamento é mais um ponto que tem contribuído para que condomínios optem por profissionalizar a gestão”, acrescenta Camacho.