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Desafios do síndico que tem outra profissão

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Profissionais de diferentes áreas compartilham experiências na gestão de condomínios e contam como conciliam as duas atividades

Fazer a gestão de um condomínio não é uma tarefa simples, é preciso reconhecer. E, embora muitos síndicos sejam profissionais, há aqueles que são moradores ou voluntários. Mas se engana quem pensa que são apenas aposentados ou pessoas que querem se livrar de pagar a taxa condominial. Pelo contrário, a função de administrar um edifício ou condomínio muitas vezes é exercida por empresários super capacitados e ocupados ou profissionais de diferentes áreas que assumiram esse desafio. Eles emprestam a sua experiência e visão de negócios nesta empreitada e têm um desejo em comum: fazer do seu condomínio um lugar melhor para se viver.

A atividade de síndico vem acompanhada de muitos desafios, ainda maiores para quem não é da área de administração. Afinal, a gestão de um condomínio ou edifício não difere muito da gestão de uma empresa. Além de gerenciar despesas, negociar contratos, orientar funcionários, entre outras atribuições administrativas, o síndico ainda tem que gerir conflitos entre pessoas. É muita responsabilidade, sim. Mas, para aqueles que optam por assumir essa atividade, é maior a satisfação de ver tudo funcionando bem, poder fazer melhorias, estar com as contas em dia e saber que os vizinhos vivem em harmonia.

E quem são essas pessoas corajosas e dispostas a abrir mão do seu tempo para dedicar momentos preciosos do seu dia por um bem coletivo? A convite da Revista Diretório Condominial, três síndicos moradores e que têm profissões paralelas compartilham um pouco da sua experiência, as principais dificuldades, como conciliam as duas atividades e de que forma empregam o conhecimento profissional para contribuir com a gestão do condomínio.

Entre um consultório e dois prédios

Jean Karlo Locatelli / Foto: Daniel Zimmermanm

Dentista há 17 anos e com 40 anos de idade, Jean Karlo Locatelli percebeu quando se mudou de uma casa para um apartamento que a função de síndico poderia ser uma oportunidade para testar seu espírito de liderança. Há dois anos passou a atuar como síndico no prédio onde mora em Blumenau, o Residencial La Isla, com três torres e 106 apartamentos. Pouco tempo depois já estava assumindo mais uma gestão, dessa vez do Edifício Maria Clara, onde possui uma sala comercial. “Na entrega do prédio, como já tinha a experiência no La Isla, resolvi me oferecer para ajudar e acabei assumindo a função de síndico lá também”, conta.

Para Locatelli, conciliar essas duas atividades não é problema, pelo contrário, até ajuda no cotidiano como dentista. “É difícil explicar, mas como cirurgião dentista fico bastante tempo fechado na mesma sala e ser síndico me dá a possibilidade de sair da clínica e mudar a chave para uma atividade pela qual tenho muito apreço”, justifica. A nova atividade inclusive trouxe alguns aprendizados para a sua carreira. “São profissões muito diferentes, mas tive ganho dos dois lados. A profissão de cirurgião dentista não me preparou como gestor. E como síndico aprendi muito sobre a organização e administração de uma clínica”, avalia.

Como a atividade de síndico surgiu de forma um pouco imprevisível, Locatelli conta que não fez um treinamento formal e que aprendeu mesmo na prática. “Confesso que assumi mais na curiosidade e boa vontade. É importante conhecer algumas coisas de leis, principalmente quando se fala em leis que são superiores a regimentos. De nada adianta ter um Regimento Interno se as leis federais são soberanas. Mas é de suma importância um regimento adequado à realidade atual e à necessidade de harmonizar convívio pessoal, familiar e social, sem confundir com amizades”, diz.

Nesses dois anos de síndico, ele revela que “O mais desafiador é fazer uma gestão que concilie a dificuldade em gerir custos desnecessários, balanceando de forma mais adequada possível receita x despesa, a fim de não aumentar as taxas condominiais. A vida de hoje nos faz ter custos na ponta do lápis e nos condomínios também precisa ser assim. Você tem que gastar o que realmente precisa sem deixar de lado manutenções necessárias, básicas, investimentos e valorização dos imóveis”.

Os desafios, no entanto, são um incentivo para o dentista, que procura aprender cada vez mais sobre a gestão de condomínios. “Espero em breve dedicar um pouco mais de tempo à função de síndico. Tenho uma afinidade enorme com essa atividade e ela me deixa extremamente satisfeito, tanto que pretendo estar à frente da administração de cinco condomínios. Se forem vários edifícios você consegue aproveitar muito as coisas boas de um e aplicar em outro, e assim acaba gerindo melhor todos eles. Sempre me defino assim: “estou síndico, mas estou porque gosto, e isso não tem preço”, pontua.

Conhecimento técnico como aliado

Sérgio Pintarelli / Foto: Daniel Zimmermann

A primeira experiência de Sérgio Pintarelli como síndico foi em 1991, na cidade de Joinville, onde morava na época. E tudo aconteceu meio inesperadamente, de forma involuntária. “A pessoa que estava como síndico do prédio renunciou e eu fui escolhido para assumir o cargo, tive que atender uma necessidade do edifício, não foi um ato planejado. A partir daí fiquei como síndico em torno de dois a três anos”, conta. Mas Pintarelli, que morou em apartamento desde jovem, admite que sempre gostou de se envolver de alguma forma com as atividades dos prédios. “Desde novo, com 22, 23 anos já tinha essa inclinação de dar palpite”, comenta em tom de brincadeira o empresário de 65 anos.

Anos depois, já de volta a Blumenau, morou por algum tempo em uma casa até que se mudou para o Edifício Finlândia, prédio situado no bairro Victor Konder e com um total de 22 apartamentos, local onde vive atualmente. “Comecei como conselheiro e depois me tornei síndico, fazendo parte de um rodízio na gestão idealizado por pessoas que zelam pelo bem maior do prédio. O bom disso tudo é que aprendi a ser conselheiro, a lidar com pessoas, a negociar, a fazer análise de contas. Sempre olho o que a gente aprende com essas experiências, em vez de ficar só vendo o que a gente acha que está doando. Todo dia aprendo uma coisa nova, e me encanta muito aprender”, diz.

Em relação às dificuldades na gestão do condomínio, ele diz que não enfrenta nada muito complexo atualmente. “Nunca foi difícil porque a minha função maior é cuidar para que o edifício se mantenha atualizado, em ordem. Os moradores também facilitam bastante na parte de investimentos, não são daqueles que só se preocupam com o gasto e sim com o resultado”, observa. Pintarelli admite, no entanto, que um dos maiores desafios no início foi montar uma boa estrutura de pessoas. “Em torno de dois anos consegui um zelador que está conosco até hoje, que nos ajuda muito e, sempre está às ordens para fazer todos os serviços necessários. Ter uma equipe trabalhando a seu favor, e que ajuda em vez de atrapalhar, é fundamental”, destaca.

Na opinião do empresário, que tem formação em engenharia mecânica e é sócio-proprietário de uma indústria do ramo metal-mecânico, o conhecimento e a experiência adquiridos nesses anos de profissão são grandes aliados na sua atuação como síndico. “Meu conhecimento técnico foi o ponto chave. O nosso portão eletrônico, por exemplo, era uma tragédia, estava sempre enguiçando. Analisei os serviços de manutenção e percebi que faziam apenas soluções paliativas. Cheguei a tirar uma peça do acionamento do portão eletrônico, levei para minha empresa para analisar e eu mesmo resolvi o problema. Como tenho essa noção técnica, consegui otimizar a contratação dos serviços de manutenção e fui resolvendo ponto a ponto os problemas. Estas ações resultaram em um ganho muito grande de tempo, praticamente não me incomodo mais hoje”.

Somado ao conhecimento e experiência profissional, o perfil pró-ativo e organizado de Pintarelli também contribuem para que tudo funcione da melhor forma no Edifício Finlândia. “Gosto de tudo organizado, tenho muito apreço por coisas em ordem e limpas. Um amigo me disse certa vez e levo isso até hoje: “as máquinas, os equipamentos e os recursos têm que estar a tua disposição”. Ou seja, se quer abrir a porta, ela tem que abrir, se faltou energia, o equipamento de iluminação de emergência tem que acender. Se você tem um prédio organizado, com tudo funcionando, dispõe de uma boa equipe para executar os serviços de manutenção e conservação e mantém a harmonia entre as pessoas que ali residem, é tranquilo fazer a gestão”, afirma.

Barba, cabelo, bigode e gestão

Cristiane da Costa Flores / Foto: Daniel Zimmermann

Foram divergências em relação ao valor do condomínio e à administração do prédio onde vive, o Residencial Garcia Parque, em Blumenau, que levaram a barbeira Cristiane da Costa Flores, 44 anos, a se candidatar à síndica, cargo que assumiu em maio de 2019. Segundo Cris, o condomínio de 3 blocos e 16 apartamentos cada, têm idades diferentes, e isso impacta muito na administração, manutenção e custos. “Logo no início, fizemos coisas básicas que o condomínio não tinha, como criação de endereço de E-mail, grupos de WhatsApp e aquisição de linha de celular. Assim, a comunicação ficou direta com inquilinos, proprietários de apartamentos, fornecedores, administradores e Conselho”, destaca.

Para se preparar para a nova função, Cris conta que no início comprou um guia de síndico na internet, mas que não teve muita serventia. “O que mais usei foi minha experiência na administração de negócios mesmo. Fiz minha formação no Sebrae em Administração, fluxo de caixa e Empretec. Um condomínio é como uma empresa de tamanho médio, então aplico o meu conhecimento como administradora de empresa. O curioso é que apesar de termos tido por um tempo um síndico profissional, quando assumi, havia muitas pendências no condomínio. Desde documentação a vistorias e manutenções periódicas obrigatórias”, conta.

Sobre o maior desafio na gestão, Cris faz uma analogia com a sua profissão, dizendo que não pode haver falhas. “A maior dificuldade era a falta de protocolos, métodos, guias e históricos das ações do condomínio. Era tudo no “achômetro”. E na minha profissão de barbeira, não dá para errar ou negligenciar os cuidados, pois ou vou ferir o cliente ou vou deixá-lo feio. O mesmo eu apliquei no condomínio. Se negligenciarmos qualquer ponto, alguém pode se machucar, causar algum prejuízo financeiro ou o condomínio vai ficar feio. Sou barbeira, mas na administração do condomínio não faço barbeiragem, não”, brinca.

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