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Preocupação que chega com as férias

Aumento do fluxo de visitantes e turistas muda rotina de condomínios e exige rigor para prevenção de crimes e acidentes

Foto: Banco de Imagens

Se as férias são sinônimo de lazer e diversão para boa parte das pessoas neste período do ano, para muitos síndicos e administradores de condomínios a época é de mais trabalho e preocupação. E um dos aspectos que mais merece atenção é a segurança. Os movimentos de chegada de visitantes à Grande Florianópolis para as festas de fim de ano e o deslocamento de moradores da região para outros destinos, mudam a rotina nos condomínios e exigem cautela.

O Major da Polícia Militar de Santa Catarina, Mauro Almir Marzarotto Júnior confirma que o aumento de turistas na região reflete no crescimento de todo tipo de ocorrências. E os crimes mais recorrentes neste período são os furtos que, normalmente, não duram mais do que cinco minutos. São comuns os furtos de bicicletas e carros da garagem ou área comum dos condomínios, enquanto nos apartamentos ou casas, muitas vezes são roubadas joias, dinheiro, roupas de grife, perfumes e itens fáceis de carregar, como celulares, tablets e notebooks. Nos condomínios de alto padrão o risco é maior na questão de assaltos e sequestros-relâmpagos. Portanto, todo cuidado é pouco.

E o cuidado começa justamente com prevenção. Militar reservista com extenso currículo na área, o professor de graduação e pós em Gestão Estratégica e Segurança Empresarial, Jonas Alves da Silva defende que é preciso basear a segurança no tripé estrutura física, procedimento e fator humano. Cada um dos aspectos é importantíssimo.

Quanto à estrutura, ele indica que anualmente os condomínios façam o diagnóstico e análise de risco para que possam identificar possíveis formas de acesso e criem dificuldade para a entrada de criminosos tanto na questão da engenharia e arquitetura do condomínio, como adotando sistemas de alarme e câmeras. No aspecto procedimento, Silva reforça que é preciso estabelecer, em acordo com os moradores, regras de segurança a seguir. É importante definir como pessoas e mercadorias vão ser recebidas e qual vai ser o controle de acesso. As estratégias adotadas não podem ser cópia do que fazem outros condomínios, é preciso definir a partir de características próprias.

Ainda mais importante do que estabelecer os procedimentos é justamente lidar com o fator humano, ou seja, garantir que as pessoas respeitem, sigam e cobrem o que foi definido. “Infelizmente, sempre tem algum morador que se acha no direito de não abrir o vidro do carro ao passar pela portaria, e aquele que reclama quando tem que descer para buscar uma pizza”, exemplifica o especialista.

A melhor forma de trabalhar essa questão, na opinião de Silva, é levar palestras aos moradores, mostrar dados estatísticos sobre segurança. Ele também indica o treinamento constante dos funcionários, que jamais devem passar informações sobre os moradores. Outra estratégia que ele propõe é aplicar testes, ou seja, enviar alguém que faça perguntas aos funcionários para ver como se saem e, até mesmo, alguém para tentar entrar no condomínio, como forma de identificar os pontos fracos. “Segurança de condomínio é segurança coletiva. Todos têm que participar”, defende Silva.

A dificuldade de unir moradores em prol da segurança está diretamente ligada a comportamentos comuns de quem vive em condomínio, como a individualidade e a falsa sensação de que a segurança não é problema dele, sustenta o superintendente comercial corporativo da Orsegups, Douglas Roberto Pinheiro. Ao considerar que estão protegidos porque vivem em condomínio, 70% dos moradores de apartamentos não trancam a porta, confiando no trabalho da portaria, argumenta Pinheiro.

Mas ele e outros especialistas são categóricos em afirmar que 90% das invasões e furtos se dão justamente pela porta da frente, mesmo onde há porteiros. Como disfarce, os ladrões se passam por membros de instituições de caridade, corretores de imóveis, visitantes da “Dona Maria” e às vezes chegam até de terno, driblando porteiros facilmente com sua lábia.

Em outros casos, os criminosos acabam entrando no condomínio junto com os moradores, sem que estes percebam, ou se aproveitam do momento em que alguém está saindo. “As pessoas esquecem que o marginal é um predador e não tem princípio social. Ele usa da fraqueza dos funcionários e do morador”, contextualiza Silva, que integrou equipes de operações especiais da Polícia Militar de São Paulo.

O grande desafio dos síndicos é mostrar que o risco existe, e não é baixo, mas que pequenos gestos podem melhorar a segurança. O superintendente da Orsegups recomenda a adoção de duas medidas: “É preciso advertir e multar quem não cumpre as regras de segurança definidas no regimento e colocar, pelo menos uma vez por mês, no elevador ou nos grupos de WhatsApp, reportagens sobre intrusos e crimes, para deixar os moradores com medo. Só o choque e a repetição os farão mudar de postura.”

Pinheiro destaca ainda que o morador é a figura mais importante para garantir a segurança no condomínio, pois um síndico não faz nada sozinho e muitos condomínios nem porteiro tem.

Cinco regras básicas de segurança:

  1. É preciso ser rigoroso na portaria e fiscalizar sempre e com atenção quem chega. Entregadores jamais devem entrar no condomínio e, se possível, o condomínio deve adotar um passa volume. Desconfie de profissionais bons ou prestativos demais.
  2. Cuidado com serviços terceirizados. A portaria deve sempre confirmar com os condôminos se o serviço foi solicitado e tentar verificar informações sobre o prestador de serviço.
  3. Condomínios devem adotar um check list de todos os itens a verificar para ampliar a segurança, como checar diariamente o funcionamento dos sistemas de alarme e câmeras. De tudo o que se há controle, a possibilidade de falha é menor.
  4. Moradores e funcionários precisam sempre observar se há pessoas suspeitas nas proximidades das entradas de garagem e de pedestres e comunicar à Polícia Militar pelo 190, em caso de atitudes suspeitas, como veículo com ocupante parado em frente ao condomínio sem motivo aparente.
  5. Em eventos no condomínio a portaria deve sempre exigir a relação de convidados, confirmando com o morador organizador, no caso de pessoas que não constem da lista. Onde não há portaria presencial ou portaria eletrônica, esse controle de acesso fica prejudicado. Nestas situações o morador organizador deve ter atenção às pessoas que possam entrar no condomínio, aproveitando o movimento.

Como orientar os moradores que vão viajar

Durante as festas, muitos condomínios recebem visitantes, mas também observam moradores habituais saindo em viagens. O papel do síndico é justamente alertar quem vai passear a deixar a própria casa ou apartamento mais seguro, evitando dor de cabeça na volta das férias.

Parece básico, mas o Major da Polícia Militar de Santa Catarina, Mauro Almir Marzarotto Júnior, destaca que é importante pedir que o morador verifique se trancou portas, janelas e sacadas e avise aos vizinhos de confiança e ao síndico que estará fora.

Segundo o Superintendente Comercial Corporativo da Orsegups, Douglas Roberto Pinheiro, outra opção para reforçar a segurança em casa é instalar sensores de movimento nas áreas de acesso. Os próprios moradores podem comprar os equipamentos, que custam na casa dos R$ 1,5 mil, ou contratar o serviço de monitoramento de empresas especializadas por cerca de R$ 160,00 por mês.

Para o condomínio, tanto com a redução de moradores, quanto com o aumento no fluxo de visitantes, uma alternativa interessante é reforçar os laços com residenciais próximos e participar da Rede de Vizinhos. O programa, pautado na filosofia de polícia comunitária, aproxima a comunidade para aumentar a vigilância da rua ou parte do bairro, com o objetivo de prevenir crimes. Segundo o Major Marzarotto, a Rede de Vizinhos está presente em todo o Estado e abrange mais de 3,5 mil localidades com mais de 120 mil participantes.

O superintendente da Orsegups acredita que toda e qualquer ação contribui para aumentar a segurança, e a vigilância da comunidade é uma delas, mas é preciso que os moradores alinhem as expectativas. Ao presenciar uma situação de arrombamento, por exemplo, a Rede de Vizinhos deve acionar a Polícia Militar, mas com o aumento dos turistas e, naturalmente, das demandas durante o verão, a chegada de viaturas pode não ser tão rápida como se espera. E neste caso, há pouco que o morador possa fazer.

Aos condôminos que viajam, também cabe ao síndico reforçar outros aspectos relacionados à segurança para minimizar o risco de problemas. O Capitão do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, João Vicente Pereira Cavallazzi, destaca que é muito importante que os moradores fechem o gás e a água, fora do apartamento, ao viajar. Ele recomenda que todos os aparelhos elétricos que não serão usados sejam tirados da tomada, como ar-condicionado, TV e cafeteira, para na volta não ter o dissabor de perceber que um equipamento entrou em curto ou recebeu uma descarga elétrica. E alerta que as pessoas jamais saiam de casa e deixem equipamentos funcionando:

“Uma das grandes causas de princípio de incêndio é a máquina de lavar. As pessoas saem para trabalhar e estudar e o motor trava, superaquece ou entra em curto-circuito”.

Apresente regras e envolva os visitantes na redução de riscos

A chegada de visitantes e turistas para o verão muitas vezes costuma ser sinônimo de dor de cabeça nos condomínios, pois aumenta o fluxo de pessoas desconhecidas e gera mais trabalho para equipes de limpezas e zeladores.

Pensando na segurança, o Superintendente Comercial Corporativo da Orsegups, Douglas Roberto Pinheiro, diz que o ideal é adotar procedimentos mais rígidos neste período. Ele cita o uso de tag, cadastro biométrico, controle de acesso e dados dos visitantes. Isso não impede que algum problema ocorra, mas permite que seja possível rastrear o que houve e evitar que se repita.

Já o Capitão do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, João Vicente Pereira Cavallazzi, entende que o condomínio tem de estar preparado para receber as pessoas sem distinção para quem é visitante, seja ele parente de moradores, inquilino ou turista que reservou por imobiliária ou aplicativos como Airbnb e Booking. É fundamental orientar os funcionários para que recebam bem os visitantes e engajá-los a adotar ações de prevenção e
redução de riscos.

“É preciso deixar claro que o turista não deve jamais fazer reparo de última hora envolvendo gás e eletricidade. Ele deve entrar em contato com a imobiliária ou proprietário e pedir que o conserto seja feito por alguém com competência técnica”, observa o Capitão Cavallazzi.
Esta informação pode constar de folhetos que o bombeiro militar recomenda que os condomínios tenham para distribuir aos visitantes, informando regras de convivência, o que é permitido, proibido e citando inclusive a possibilidade de multas. Na Grande Florianópolis, ele sugere que o informativo seja bilíngue, devido à grande quantidade de turistas estrangeiros.

Outra questão que os síndicos e administradores devem ficar atentos é quanto à superlotação dos imóveis. Um condomínio é dimensionado para um determinado número de pessoas por apartamento. Se superlotar, os sistemas vão ser sobrecarregados, podendo gerar problemas a todos, desde a falta de água, até problemas na rede de esgoto.

“Quem tem uma cobertura não pode alugar para 20 pessoas, por exemplo. Isso tem que ficar bem claro para o dono do imóvel, para a imobiliária e para o inquilino. É preciso fiscalizar e advertir o responsável”, recomenda Cavallazzi.

Alerta máximo na área de piscina

Foto: Banco de Imagens

Fora a preocupação em prevenir crimes, quem administra condomínios também precisa dedicar muita atenção para evitar acidentes nesta época do ano, principalmente em residenciais com piscina, que passam a ser muito frequentadas pelas crianças nas férias escolares. O maior risco é o de afogamento.

O Capitão do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, João Vicente Pereira Cavallazzi, adverte que as crianças nunca devem estar sozinhas na área de piscina. Essa questão tem que ser cobrada tanto de moradores, quanto de visitantes. Ele deixa um alerta: “Boia de braço, boia redonda ou boia em que a criança se deita sobre ela, não são equipamentos de salvamento, pois são feitas para lazer. Ou seja, a criança não está segura com elas.”

Como regra básica, a piscina tem que estar em dia e dispor de equipamentos como placas indicativas de profundidade e sobre o que é permitido na área. Também é exigido em Santa Catarina que o sistema de ralo seja antissucção.

Evite os fogos de artifício

Foto: Banco de Imagens

Com a proximidade do Réveillon, uma das perguntas que o Capitão do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, João Vicente Pereira Cavallazzi, mais recebe é sobre como agir de forma segura para evitar acidentes com fogos de artifícios. Ele é taxativo com todos que perguntam: “Não existe procedimento seguro envolvendo fogos de artifícios.”
Segundo ele, o problema com o artefato começa na fabricação, pois não existe norma brasileira para a produção e as empresas também não seguem normas internacionais. “É ultrainseguro, portanto não compre e não use. Ao ver alguém manuseando, afaste-se pelo menos 10 metros”. Cavallazzi se refere especificamente aos fogos de manuseio amador e não aos espetáculos contratados por prefeituras e feitos por empresas especializadas.

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