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Entidades do setor condominial projetam possíveis cenários para a virada do ano e a temporada de verão

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Responsáveis pelas decisões nesta época do ano falam sobre as incertezas e os aprendizados vivenciados durante a pandemia

Foto: Banco de Imagens

O ano de 2020 ainda não terminou, mas seus meses diante de uma pandemia trouxeram ensinamentos que se estenderão para o futuro. Há poucos dias do início da temporada de verão e das festas de fim de ano, o setor condominial de Santa Catarina segue acompanhando diariamente os números de contaminação pela Covid-19 e os impactos, como os decretos governamentais, que isto têm causado. O dia a dia nos condomínios não passou incólume diante de tantas mudanças, em sua maioria inesperadas, gerando os mais diversos conflitos. Como cenário atualizado, os principais responsáveis pelas decisões da categoria falam com cuidado sobre algumas regras para esta época do ano.

Carlos Spillere / Foto: Divulgação

Atualmente, a abertura de áreas comuns e piscinas, por exemplo, não segue uma unanimidade. Carlos Spillere, presidente da Associação de Síndicos de Balneário Camboriú, explica como está a pauta na cidade, uma das mais movimentadas do Litoral brasileiro: “O que existe hoje são alguns decretos estaduais de algumas situações localizadas, mas tudo depende da situação do momento da pandemia. Em princípio, as áreas comuns podem ser liberadas. Cada condomínio tem suas características, depende do perfil do morador, com menor ou maior grau de risco. Hoje estas áreas estão vinculadas à situação de risco e limitadas à utilização de parentes de uma mesma família. É uma administração controlada, seguindo todos os protocolos de segurança”.

Em outra região também bastante movimentada, Fernando Willrich, Presidente do Secovi Florianópolis, confirma a montanha-russa das decisões para os condomínios e as mudanças constantes no cenário. “Você fala uma coisa hoje para o cliente e amanhã já pode ter mudado. Sobre as áreas comuns, estão abertas parcialmente, com limitações. Decidimos que a decisão fica sempre a cargo do síndico, tanto na liberação quanto na fiscalização. O síndico vem sofrendo pressões diversas, porque tem aquele morador que acha que a pandemia não existe e tem aquele que acha um absurdo o condomínio liberar”. Fernando aponta ainda que este profissional, na linha de frente, vive o antagonismo da situação e muitas vezes prefere manter as áreas fechadas para evitar maiores conflitos e consequências. É a mesma situação apontada por Joana Fachini, presidente da Associação de Síndicos de Joinville. Na cidade, apesar da flexibilização das regras de convívio divulgadas pela prefeitura, os síndicos ainda – pelo menos até o fechamento desta edição, no início de novembro – mantêm as áreas comuns e a piscina sem liberação.

Festas de fim de ano

Joana Fachini / Foto: Divulgação

A incerteza e a possibilidade da manutenção das regras atuais também afetam os eventos relacionados ao Natal e Réveillon, como as festas e os shows nas áreas comuns. “Neste momento, não tem como liberar, pois gera muita responsabilidade, principalmente em condomínios maiores”, defende Joana.

Já em Balneário Camboriú, a indefinição sobre as festas de fim de ano e o verão deverá ser solucionada depois do pleito municipal: “Aguardamos a eleição, acredito que algumas medidas sejam tomadas de acordo com o momento. Aqui, por exemplo, ainda não foi cancelado nada (das festas). As autoridades terão que decidir o melhor para a população. A gente entende o comércio, mas BC é uma cidade com uma parcela grande de moradores idosos. Vivemos um conflito, pois somos uma cidade turística, com hotéis, restaurantes e outras empresas de turismo”, esclarece Carlos Spillere.

Na capital catarinense, Fernando Willrich também acredita que após as eleições novas decisões deverão ser apresentadas. Para ele, como muita coisa em 2020, a temporada de verão será um aprendizado constante: “Vamos entender qual será a dinâmica dos próximos meses. Imaginamos que seria uma temporada tranquila, mas com a questão do dólar e de as pessoas não poderem viajar ao exterior, teremos um turismo muito mais próximo e local. Vamos acompanhar como será a rotina dos moradores com os frequentadores de temporada”.

Outro tema a ser acompanhado será o aluguel através da plataforma digital Airbnb. Teoricamente, explica Fernando, está tudo liberado e não sofre nenhuma restrição. “O condomínio deverá ter uma atenção dupla, o que já ocorre normalmente, mas desta vez, em função do cumprimento das regras de segurança e normas de distanciamento social”, alerta.

As orientações relacionadas aos aluguéis não diferem muito de outras temporadas. Carlos Spillere garante que a orientação sobre segurança e o cadastro de quem aluga, entre outros assuntos, advogam pelo convívio harmônico entre moradores e turistas. “Essa convivência tem que ser estimulada da melhor forma, independe da pandemia. Não tem como impedir uma locação, por sua vez é necessário estabelecer regras aplicáveis”, pontua.

Assembleias virtuais

Com o próximo ano a caminho, as assembleias com a eleição do síndico e a aprovação do orçamento, entre outros temas, também aparecem na agenda. Um dos maiores acontecimentos do setor neste ano foram as assembleias virtuais, até então impensáveis. Se esta maneira veio para ficar, pelo menos em Florianópolis, Fernando Willrich acredita que sim. “Vamos fazer de tudo para que sejam virtuais, não todas, claro, mas a maioria. Inclusive, temos tido mais presença porque aqui em Florianópolis muitos condomínios são a segunda casa, para veraneio, o que evita o deslocamento. E também se mostrou uma ferramenta bastante eficaz, mais organizada e mais segura”, avalia.

O fato de não existir o deslocamento é um dos fatores que mais contam positivamente para a consagração das assembleias virtuais. “Elas têm aumentado a frequência dos condôminos. Temos situações de assembleias com pessoas que estão nos Estados Unidos ou na Europa e agora podem entender o que está acontecendo. Vão ficar, talvez, mistas. E também são ferramentas que aproximam a relação do síndico com o conselho”, aponta Carlos Spillere, de Balneário Camboriú.

Na contramão das opiniões, Joana Fachini acredita que os encontros digitais são uma solução para condomínios menores, com um controle maior. Sua experiência não foi das melhores: “Em condomínios maiores elas vão acontecer em casos esporádicos, às vezes. O síndico tem dificuldade de fazer uma aprovação, muitas vezes a assembleia não tem quórum. Eu já fiz e não gostei. Presencialmente é muito melhor”, critica.

Se as assembleias virtuais se tornaram uma realidade, o preparo por parte dos síndicos para este encontro ganhou novos contornos. “Tenho participado de algumas e vejo que o pessoal está bem preparado, como por exemplo na questão das votações, no recolhimento dos votos. As empresas que prestam consultoria têm dado um bom suporte”, enfatiza o representante do sindicato de Balneário Camboriú.

Fernando complementa o debate: “O que a gente tem percebido são os cuidados na convocação, no edital, o envio com antecedência. A orientação prévia de como acessar, envio de e-mail, coloca no prédio, na caixinha de correspondências. As procurações enviamos antes para que no momento online estejam em mãos. Como ela não deixa de ser uma assembleia democrática, o síndico não pode dificultar a participação de ninguém”.
Cuidados como ter um edital bem formatado, com todas as informações, principalmente de como entrar na plataforma, assim como fazer votação via chat, com registro do nome do morador e o número do apartamento, são apontados por Joana Fachini como pontos essenciais.

Balanço da pandemia

Fernando Amorim Willrich / Foto: Divulgação

Para Fernando Willrich, num balanço sobre o ano de 2020 para o mercado condominial são diversos os aprendizados. “O que fica para o setor das empresas de administração de condomínios é que aquelas que não vinham se atualizando, se tornando digitais, com a pandemia, enfrentaram dificuldade. A empresa que já estava preparada com sistema web e mecanismo de votação, com a pandemia ocorreu a migração. Isso é um caminho sem volta”, opina.

Ele vai além, comentando ainda do ponto de vista econômico: “A gente não pode fechar os olhos para o fato de que a pandemia agravou um movimento de crise. Tivemos que repensar orçamentos, evitar reajustes, rateios. De fato, tivemos que espremer, sermos ainda mais cuidadosos”, comenta o presidente do Secovi de Florianópolis.

Da maior cidade de Santa Catarina, Joana Fachini destaca que a gestão de pessoas foi uma prática bastante exercitada: “Em geral, os moradores estão mais difíceis de lidar, estão intolerantes, pela forma que está o mercado, como a sociedade está. O reflexo é nítido. Muitos condomínios tiveram troca de síndico, de administradora. Como síndica, passei um ano inteiro apagando fogo, mais do que normalmente já acontece. Foi o que eu
mais aprendi”.

Carlos Spillere, que assim como seus colegas de profissão acredita em um novo ano mais calmo e com as situações relacionadas à pandemia resolvidas, aponta um importante aprendizado deste 2020: “O síndico tem que ser cada dia mais profissional. As empresas com um bom treinamento e suporte se destacaram. Elas têm que melhorar sua qualidade, houve uma grande mudança na questão da administração, houve uma aceleração da profissionalização, elas não podem mais ser só contabilidade. E também entendemos a necessidade de um canal atualizado para que os síndicos tenham acesso às informações, às mudanças na categoria, às respostas para suas dúvidas”, finaliza.

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